domingo, 24 de maio de 2009

l'aurore.

Enquanto se espraiava o ténue azul, sobre o vermelho, escarlate de escárnio, dos prédios disformes e aturdidos pela escuridão; à semelhança do anterior término; nascia uma nova luz, cegante.
Era importante trasbordar um fino sorriso, quando se transmigrava, perante o meu impávido e atolado olhar, inconsequentemente despreocupado.
Aquele intenso brilhar exalçava-se de uma inolvidável maneira, de todo o lusco-fusco que teimava em tomar o ar, que me afogava as vias respiratórias, já adormecidas pelas velhas e amarelas bolas de fumo, e que enlameava toda a cidade; sob a massa curvilínea e azul; quer avenidas, vielas, e ruas míseras, num perfume de uma saborosa verdejante fragrância.
A luminescência apagava a sua predecessora vida, e preenchia-a consigo mesma - não temas a nova aurora incadescente, miúdo. Nada mais natural do que apagar a morte, com nova vida: acontece, todos, mas todos, os oitenta e seis mil e quatrocentos segundos. É inelutável, e vem por bem. Não o temas, o que é real, sempre o é - lançava-me, languidamente, pelos átomos que nos ligavam, placidamente, naquele amanhecer portentoso, recheado de uma nova esperança, um outro esforço, desterrado da terra dos sonhos.
Encarei a negra rua, por baixo de mim, fitei os longínquos ratos, de olhos enraivecidos, buscando uma nesga de comida apodrecida pela humidade nocturna. Contudo, o fitar, de algumas das esfaimadas criaturas, embevecia-se, defronte da nova luz, e rendia-se, secando o vermelho de raiva, inebriando-se na opalescente sacudidela de éter.
Mas outras, perversas, esgueiravam-se: subtilmente, para uma ruela, ainda mais negra e retorcida, abominando por completo a luminescência que se erguia, iluminadamente.

So long as there is light... there will always be a shadow. ~ EVA( Big Mama); MGS4.

1 comentário:

  1. vivemos no constante lusco-fusco, a diferença entre as manhãs, tardes e noites.
    piratas.

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